
O Taijiquan é uma arte que carrega 400 anos de sabedoria e tradição. Para entendermos o que o Taiji representa hoje, precisamos olhar para suas origens. Ele nasceu durante a transição das dinastias Ming para Qing, compilado pelo General Chen Wangting. Naquele tempo, o Taiji era uma poderosa e secreta arte de combate, utilizada para a autodefesa. Sua natureza era combativa e seus movimentos, muito diferentes dos que vemos hoje.
Com o passar do tempo, a arte evoluiu. O Taiji da família Chen se ramificou em outros estilos, como o Yang, o Sun e o Wu, cada um com suas próprias características. Mas a maior transformação não foi nos estilos, e sim em seu propósito. Ele deixou de ser um segredo militar e se tornou um presente para a humanidade, acessível a todos. Hoje, o Taiji é praticado por pessoas de todas as idades, e a principal razão é a busca pela saúde. É um reflexo de uma mudança de prioridade. Em vez de uma arte de campo de batalha, ele se tornou uma prática que cultiva a saúde do corpo e da mente. É por isso que, na China, mais de 70% dos praticantes estão interessados nos benefícios de saúde do Taiji, e é comum ver praças e parques repletos de pessoas em seus movimentos suaves.
Mas o que torna o Taiji tão especial? Ele é uma síntese de quatro elementos: práticas de saúde, exercícios físicos, a filosofia Taiji e as artes marciais. A essência do Taiji está em seu princípio central: “deixar a natureza seguir seu curso”. Ele nos ensina a nos adaptarmos às circunstâncias, a fluir com a vida. E para que essa adaptação seja possível, precisamos harmonizar três elementos essenciais: movimento, pensamentos e respiração. Eles são como a base de um tripé; se um falha, os outros também falham.

A maior diferença do Taiji para outras atividades físicas reside no foco. Enquanto em outros exercícios o foco é secundário, no Taiji, é fundamental que ele esteja voltado ao interior. Nós olhamos para dentro, para o nosso corpo, nossa respiração e nossos pensamentos. Quando iniciamos a prática, o primeiro passo é buscar internamente, direcionando a mente e a respiração para o Dantian, nosso centro de energia. Esse processo de trazer o “Qi” para o Dantian faz parte do que chamamos de “cultivo interno”.
A prática nos ensina a perceber e a controlar o nosso próprio corpo. Quando estamos calmos e relaxados, isso é um sinal de que nossa mente está em paz, o que otimiza a circulação do nosso “Qi” e do sangue. A lógica por trás disso é o equilíbrio do Yin e do Yang. Aplicado ao nosso corpo, isso significa o equilíbrio entre o interior (a mente) e o exterior (o corpo). Para encontrar o corpo, é preciso primeiro encontrar a calma mental. Quanto mais calmos estamos, mais claramente percebemos nosso corpo. É por isso que movimentos lentos, como a postura em pé (Zhan Zhuang), são tão importantes para iniciar essa jornada de autoconhecimento.
Nossa mente precisa estar focada internamente, mas essa atenção não é estática; é dinâmica. Enquanto o Taiji pode ser praticado de forma lenta, ele também pode ser rápido e vigoroso para aumentar a força e a capacidade de reação, elementos essenciais para a autodefesa. No entanto, hoje, o foco principal está na saúde. Como diz o ditado: “para dentro, se treina a mente” (saúde) e “para fora, se treina a aplicação” (autodefesa).
“内修性命以养生,外用螺旋以制敌” (Nèi xiū xìngmìng yǐ yǎngshēng, wài yòng luóxuán yǐ zhì dí)
“Internamente cultiva vida e essência para saúde; externamente usa força espiral para dominar o adversário”.
Por fim, o Taiji se conecta diretamente com os princípios da medicina chinesa, que busca o equilíbrio do fluxo do “Qi” e do sangue. Da mesma forma, o Taiji nos leva ao equilíbrio entre mente e corpo.
O Taiji é, sem dúvida, um tesouro cultural chinês que se espalhou pelo mundo, oferecendo a todos um caminho para a saúde, a paz interior e o autoconhecimento.
Marco Moura
Texto baseado em palestras do Mestre Chen Bing
“Para dentro se treina a mente” para fora os relacionamentos ?
Nesse contexto de uma arte marcial interna, significa voltar-se para dentro para cultivar a saúde física e mental.
A arte marcial voltada para o exterior nos prepara para o combate. É uma alusão à perspectiva da época em que o Taijiquan foi desenvolvido, quando a necessidade de defender-se para sobreviver era vital.