O Taijiquan, em sua essência, representa uma profunda jornada de refinamento do movimento funcional – a maneira como nos movemos no nosso dia a dia para realizar tarefas com propósito.

O Que é Movimento Funcional?

Movimento funcional é todo movimento que possui uma intenção, desde as ações mais básicas até as mais complexas. Caminhar, levantar um objeto, alcançar algo, tudo isso envolve uma função. Diferente de movimentos isolados, a funcionalidade reside na integração de diversos micro-movimentos que o corpo executa de forma coordenada e eficiente.

A Jornada em Quatro Fases:

Podemos visualizar o aprendizado do movimento funcional no Taijiquan como um ciclo dinâmico de quatro fases, análogo às quatro estações e profundamente conectado à filosofia do Taiji: Tai Yin, Shao Yang, Tai Yang e Shao Yin.

O Movimento do Centro e o Processo “Solve et Coagula”:

Um aspecto fundamental da funcionalidade proposta pelo Taijiquan é a forma como o movimento é gerado: a partir do centro do corpo (o Dantian) e se expandindo em espiral para as extremidades. Essa mecânica corporal integra o corpo como um todo de maneira coordenada, otimizando a transferência de força e promovendo a eficiência em cada movimento.

O aprendizado motor no Taijiquan pode ser visto como um processo de “Solve et Coagula“. Inicialmente, precisamos nos libertar (‘Solve’) de padrões de movimento disfuncionais e tensões desnecessárias através do relaxamento e da soltura. Em seguida, reconstruímos (‘Coagula’) o movimento a partir de uma base sólida e um eixo corporal corretamente posicionado, desenvolvendo uma nova forma de funcionalidade que é mais alinhada, eficiente e saudável.

A Dança entre Gang (剛) e Rou (柔):

Essa jornada de desconstrução e reconstrução, o ‘Solve et Coagula’, encontra um paralelo interessante nos princípios fundamentais do Taijiquan: Gang (剛), que representa a força, a estrutura e a firmeza, e Rou (柔), que simboliza a suavidade, a flexibilidade e a capacidade de ceder.

No processo de ‘Solve’, buscamos a qualidade do ‘Rou’, relaxando as tensões e soltando os padrões de movimento disfuncionais. No entanto, se essa dissolução for excessiva, corremos o risco de colapsar, perdendo a estrutura necessária. Já na fase de ‘Coagula’, onde reconstruímos o movimento a partir do centro, precisamos cultivar o ‘Gang’ para estabelecer uma base sólida e um alinhamento correto. Contudo, um excesso de rigidez (‘Gang’ sem ‘Rou’) pode levar à tensão e à falta de fluidez, tornando o movimento mecânico e propenso a rupturas.

Assim, o aprendizado do Taijiquan é uma busca constante pelo equilíbrio entre o ‘Solve’ e o ‘Coagula’, entre o ‘Rou’ e o ‘Gang’. É nessa dança entre a suavidade e a firmeza que encontramos a verdadeira funcionalidade e a potência do movimento.

Assim, o Taijiquan oferece uma jornada transformadora para refinar a nossa capacidade de nos movermos com propósito, eficiência e saúde. Ao compreendermos as quatro fases do aprendizado, a importância do movimento que emana do centro, o processo de “Solve et Coagula” e a busca pelo equilíbrio entre “Gang” e “Rou”, podemos desbloquear um potencial de movimento mais inteligente e integrado em nossas vidas.

Resumo:

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